Um senhor café em Chicago
19/05/12 19:5724 de maio é o Dia do Café. Selecionei um dos meus artigos sobre a bebida, que serve como dica para quem viajar a Chicago – uma cidade que, além de incrível, tem ótimos cafés!
A cultura de café em Chicago, assim como nas grandes cidades dos Estados Unidos, é assunto sério. Bem sério. Deixemos de lado o fenômeno Starbucks. Nova York, por exemplo, tem cafeterias consolidadas. É o caso do Cafe Grumpy e da Stumptown Coffee que, além de lojas (que tratam com seriedade cada xícara de café preparada) têm suas próprias torrefações – o que imprime, definitivamente, uma marca, uma identidade a cada uma delas. Sem falar em cafeterias bem acabadas que, embora não torrem seus próprios grãos, escolhem com cuidado aqueles que irão apresentar aos clientes. A Ninth Street Spresso, também novaiorquina, é um desses casos. Seus cafés vêm de uma das melhores torrefadoras dos Estados Unidos e que é o tema desse artigo: Intelligentsia Coffee.
Intelligentsia foi meu café de quase todas as manhãs durante a semana que passei em Chicago. Tudo bem, as lojas da Corner Bakery – uma delas próxima ao meu hotel – até faziam um café decente, mas nada se compara aos garotos perfeccionistas, no melhor (ou pior) estilo grunge, do Intelligentsia.
Quem entra na cafeteria do Millenium Park (referência ao famoso parque da cidade) dificilmente sai de lá na primeira hora – e a loja tem apenas uma poltrona gostosa de sentar: o restante dos assentos são cadeiras que mais privilegiam layout do que conforto, mesinhas estreitas onde mal cabe um notebook ou banquinhos altos dispostos na frente do balcão e numa mesa comunitária.
Mas o que importa, ali, é mesmo a bebida. A iluminação tênue, alimentada pelas janelas e portas de vidro que deixam passar a luz do sol, o som lounge e o silêncio típico do americano – que fica “na sua” lendo um livro em seu ipad ou trabalhando em seu laptop – abrem espaço para que se preste atenção ao trabalho concentrado dos baristas, nas diversas opções oferecidas para se tomar o melhor café que conseguem oferecer. E isso é questão de honra e um motivo que ajuda a explicar o sucesso recente da empresa.
Tudo começou em 1995, quando o casal Doug Zell e Emily Mange deixou a cidade de São Francisco e resolveu abrir uma pequena loja e torrefadora na avenida Broadway, na área norte de Chicago. Naquela época, contavam apenas com um torrador de 12 quilos e a vontade de servir um café de qualidade.
Hoje, além de Chicago, onde existem cinco lojas, a cafeteria já fez sua estreia em Los Angeles e Nova York – nesta última apenas com um laboratório, onde ocorrem degustações, cursos e palestras. Tão logo chegou à Big Apple, o Intelligensia arrebatou o prêmio de melhor grão da cidade (fornecido a outras cafeterias) na eleição do The New York Times, em 2010.
Pelo Intelligentsia também passam grandes baristas. O campeão mundial de 2010, Michael Phillips – agora em carreira-solo – criou-se na empresa, onde era assistente de treinamento à época do campeonato que lhe deu fama internacional. Stephen Morrisey, campeão mundial em 2008, passou a fazer parte da equipe e é, atualmente, diretor de educação.
De acordo com a empresa, seu time de provadores gasta “365 dias do ano” em busca dos melhores grãos. O trabalho não se resume à compra de café das fazendas selecionadas. O grande diferencial é seu trabalho sistemático e em conjunto com os produtores. Os single origin (ou cafés de uma única origem) vendidos na loja são, assim, exclusivos, e dão uma mostra do universo percorrido e do critério de escolha do Intelligentsia.
Há uma variedade grande de cafés single origin para experimentar, além de alguns blends. Um dos mais interessantes que provei foi o honey badger, um blend de verão que estava sendo servido nos dias quentes de junho – na primeira semana do mês, a temperatura chegou a ultrapassar 35°C –, uma combinação de grãos de duas origens brasileiras (que, infelizmente, não foram especificadas pelos funcionários) e uma do Quênia, em que surgiam notas claras de pequi, frutinha brasileira do Cerrado. Entretanto, o mesmo brilho prometido pelo café La Tortuga, de Honduras, descrito como repleto de notas de tamarindo, manga seca e abricó, não apareceu na xícara. Melhor desempenho tiveram os grãos de El Salvador e de Burundy.
São vários, também, os métodos em que se pode prová-los. Assim como outras cafeterias pelo mundo, a empresa de Chicago acompanha a tendência conhecida como “brew bar” – em que se procura destacar, para além do espresso, outros métodos de preparo para que se possa apreciar notas aromáticas que não aparecem no referido método, por ser muito concentrado. Nesse sentido, o que mais me atraiu, talvez pela simplicidade, é o Hario V-60, sobe o qual já comentei neste blog.
O foco no café em Chicago é tão grande que o pessoal da Intelligentsia deixou meio de lado possíveis acompanhamentos para ele – pelo menos na loja Millenium Park. Lá, um ou outro muffin dá o ar da graça na pequena vitrine sob a caixa registradora.
Essa perspectiva, porém parece estar mudando com a expansão da marca, que visa enquadrar o café sob uma nova óptica – a culinária. A terceira loja aberta em Los Angeles em 2011, em Pasadena, dá outro valor à comida. Instalada num edifício do século 19 e cuja decoração ficou por conta de um badalado escritório de arquitetura (MASS Architecture), tem no andar debaixo uma cozinha, tocada pelo chef Matthew Poley, do catering Heirloom LA, que segue a linha italiana made in Califórnia. “Os visitantes encontrarão alguma sensibilidade moderna aqui, mas isto é, essencialmente, uma experiência da velha escola”, disse em entrevista recente Kyle Glanville, diretor de inovação e chefe de operações da empresa na Costa Oeste.
Inteligentsia Coffee (Millenium Park Coffeebar. 53 E. Randolph St., Chicago)
Publicado na revista Espresso número 33
Gostei de todas as dicas, mas sem chance alguma de testá-las num futuro próximo.
Num post separado, que tal falar apenas sobre o fenômeno Starbucks?
A rede tem uma legião de detratores, mas as críticas são ao espírito imperialista e de homogeneização do mercado, ou ao produto em si?
Eu particularmente acho desprezíveis as invencionices de caramel machiatto e afins, mas gosto dos cafés puros deles, mesmo os diluídos. Os blends deles vendidos em grãos talvez custem mais do que deviam, mas considero muito bons.
Tenho curiosidade sobre a opinião de quem conhece mais do assunto do que eu.
Obrigado, e parabéns pelo blog!
Oi Paulo, compreendo sua preocupação. Depois de ver a obsessão com que baristas internacionais e brasileiros têm em servir o melhor café possível, confesso a você que Starbucks não tem sido meu foco de interesse. gigantismo e excelência em qualidade são coisas que raramente conseguem andar juntas. Embora este tenha sido um post de uma cafeteria fora do Brasil, temos lugares por aqui, particularmente em Sp, que merecem ser conhecidos pelo seu trabalho de qualidade – e pequena escala. Sugiro que vc visite o Suplicy e o Coffe Lab, que fazem um excelente trabalho e têm cafés de alto nível. Um abraço e continue ligado no blog, pois vou publicar nesta semana um café muito especial brasileiro! Abraço
Obrigado pela resposta!
Sim, eu acompanho com muito interesse o crescimento da qualidade dos nossos cafés e baristas, sou fã do Suplicy, e estou louco para comprar uma aeropress no Coffee Lab.
Prefiro sem dúvida alguma as cafeterias pequenas, e os cafés preparados por baristas apaixonados por essa arte.
Mas gosto dos grãos vendidos na starbucks, e sempre fico em dúvida sobre as críticas feitas a eles.
Mas tudo bem, acho que pesquei sua opinião nas entrelinhas.
Aguardo o próximo post!
paulo,
é isso mesmo, obrigada! quanto ao Aeropress, vale muito à pena adquiri-lo!
um abraço, obrigada pela tua leitura e, como dizem os baristas: bons cafés!